#Memória descritiva 

Introdução

Segundo o departamento de Comunicação da Divisão Sul-Americana a comunicação é o “facto de tornar algo comum ou compreensível” para outros. Assim, comunicar passa não só pelo uso da palavra mas também por gestos, imagens ou por vezes pela própria ausência de palavras em determinadas situações.

No entanto, muitas vezes, a comunicação visual é menos valorizada em detrimento da comunicação escrita ou oral. Contudo, o ser humano foi naturalmente programado para “descodificar” os elementos visuais do seu habitat para sobreviver. Aliás, a teoria Gestalt explica que a perceção funciona juntando pequenos elementos para interpretar o seu todo: “o todo é mais do que a soma das partes”.

Consequentemente, podemos comunicar utilizando simplesmente elementos básicos da comunicação visual (linha, ponto, cor,…) para expressar ideias, imagem e sentimentos.

A primeira proposta de trabalho da unidade curricular de Design e Comunicação Visual centra-se na temática dos elementos básicos da comunicação visual. Através da realização deste trabalho, pretende-se que os estudantes sejam capazes de identificar e distinguir os diversos elementos deste tipo de comunicação de maneira a realizar duas composições visuais que expressam a partir de uma música escolhida pelos mesmos (Post #Primeiros Passos)

Desenvolvimento e explicação do projeto

Antes de escolher uma música achei pertinente encontrar um elemento que pudesse ser uma fonte de inspiração para mim (Post #A minha Musa). Depois disso, a escolha da música veio de maneira intuitiva: “Peut-être que nous serions heureux” de Baptiste W. Hamon e Alma Forrer. Esta música não só representa um amor simples e possivelmente próspero, como também as vozes dos artistas transmitem sensibilidade e emoção a mesma. Assim, ao optar por um tema universal como o amor e as ligações entre ser humanos apaixonados podia possivelmente conseguir criar uma ligação entre as minhas composições visuais e as pessoas que as visualizarão.

Como mencionei no meu artigo “#Dificuldades ligadas ao projeto” a realização das minhas composições foram um pouco atribuladas. Como novata na área acabei por tirar muito poucas fotografias do meu trabalho em curso, a explicação será, sem dúvidas, a falta de experiência.

No entanto, e apesar das minhas limitações, consegui acabar o meu trabalho, que espero, alcance os objetivos pretendidos pelo Docente.

A minha composição visual de forma quadrada pode ser analisada por várias partes: o fundo, as duas imagens opostas, a ponte de ligação e o texto.

  • Fundo: Pintado a base de tinta acrílica e de água o fundo é uma mistura de cores pastéis azuis e verdes. O azul simboliza o espírito e o pensamento, transmite tranquilidade e é muitas vezes associada ao ideal e ao sonho. Quanto ao verde significa esperança, renovação e fertilidade visto que é a cor da natureza.

A cor sendo um elemento básico de comunicação visual achei pertinente seleciona-las de maneira rigorosa.

Tanto o verde como o azul (cor dominante), ambas representam o espirito da música que é a possibilidade de amor próspero e de uma felicidade relacionada com o alcance deste último.

As diferentes formas que podem ser identificadas no fundo representam de maneira “imaginária” as células do corpo humano quando estas estão a ser observada ao microscópio. Assim, podemos idealizar o amor como elemento incorporado nos genes do ser humano.

  • Imagens: Posicionadas de maneira oposta, as imagens representam o casal que pretende alcançar o amor, mas que ainda não conseguiu (importância do espaço entre elas). De um lado, a árvore que pode vir a representar a mulher, fruto de fertilidade e de beleza e de outro lado a terra, homem, que é a semente e o alimento dessa árvore. Ambos representam simbolicamente um casal que ao se encontrar formaram a essência da vida: oxigénio de ponto de vista biológico e procriação de ponto de vista animal. As imagens foram propositadamente não coladas na extremidade do quadrado: a ideia é poder imaginar que para além de este fragmento de imagem, existem outros casais que tentam se alcançar. Aqui, também as cores das imagens são essencialmente azuladas para poder manter uma harmonia. Os elementos básicos da comunicação visual que estão representeados são a linha com os braços da árvore e o ponto com as pedras que representam a terra.
  • Ponte de ligação: A ponte entre as duas imagens simboliza as primeiras ligações que são estabelecidas entre um casal quando um decide fazer a sua declaração ao parceiro. Aparentando-se as veias do corpo humano a ideia é sublinhar a dependência de cada um ao outro. Nem todas as pontes de ligação chegam ao elemento pretendido pois alcançar o amor é um caminho de todos os dias numa relação. Seguindo a teoria Gestllat podemos pensar visualizar um corpo cuja cabeça é uma das cores do fundo. Poderíamos interpretar isso como possível criação de um terceiro elemento que seria o fruto de o amor entre dois indivíduos sexuados e apaixonados: um filho. A cor verde pode alimentar a ideia do corpo pois o verde, sendo a cor da esperança, poderia lembrar a ideia de espera pela vinda ao mundo de uma criança.
  • Texto: Sendo a tipografia um elemento de comunicação visual e a música sendo o fruto da criação artística, julguei que a presença do título da música na composição fosse importante. Tentando manter neutro este último sem retirar a atenção dos outros elementos, está presente numa cor branca e tamanho pequeno com um tipo de letra bastante infantil, sendo o amor um sentimento elementar do ser humano.

Podemos analisar esta composição como bastante positiva ao que diz respeito ao alcance de um amor correspondido e próspero entre dois indivíduos.

Quanto a minha composição visual de forma circular, que está elaborada de maneira diferente, podemos observar os elementos seguintes: o fundo e o centro.

  • Fundo: Constituído pela linha que é um elemento básico de comunicação visual a ideia era representar uma teia de ligações e de memórias entre dois indivíduos. As diferentes cores representam os diferentes graus de intensidades de emoção que pode existir nestes eventos passados entre dois indivíduos.
  • Centro: No centro da imagem, podemos ver uma flor que faz diretamente ilusão as “rosas” da canção. No entanto, as flores estão frequentemente ligadas a ideia de inconstância e de efemeridade da vida ou do amor, pois murcham com rapidez. Concretamente, podemos observar na imagem uma flor em via de decomposição. Tendo a canção a incerteza da felicidade que só será alcançada se os dois elementos da relação tiverem dispostos a darem-se um ao outro podemos interpretar a flor como o amor que, se não for acarinhado no devido momento, poderá morrer. Desta maneira, estando a flor a morrer, podemos pensar que ambos os elementos da relação não conseguiram alcançar a felicidade.

Ao contrário da primeira composição podemos analisar esta última como a oposição da primeira dando assim uma visão negativa da conquista do amor.

Inspirações e referências

Ao longo do desenvolvimento do meu projeto tive curiosidade em pesquisar um pouco mais sobre alguns artistas que descobri nas aulas e outros que já trazia na minha bagagem cultural.

  • Shinichi Maruyama: Tive a possibilidade de conhecer este artista na aula de DCV e fiquei bastante interessada no seu vídeo, mas principalmente intrigada com a técnica que ele utilizou para o realizar. Pensei numa primeira fase em realizar algo parecido para a minha composição visual circular para criar as teias. Infelizmente, não tive essa possibilidade, mas gostaria muito, futuramente, realizar uma experiência parecida em escala mais pequena, pois as formas realizadas pela água e o movimento do braço com o pincel dá um toque único a realização.
  • Claude Monet: Conheço este artista há vários anos e reconheço uma grande beleza nos seus quadros de estilo impressionista. Diferente da arte académica ou moderna, o impressionismo acaba por utilizar elementos básicos da comunicação visual como a linha, a cor, o movimento e muito mais para pintar paisagens ou pessoas de maneira que eu julgo muito acertada. Considero, assim, o impressionismo como uma técnica muito representativa da condição humana porque independentemente de não desenhar ao pormenor os detalhes do elemento pintado como no estilo realista acaba por mostrar um aspeto da nossa vida: a efemeridade.
  • Georges Seurat: Fundador do pontilhismo é para mim um grande visionário da pintura. O pontilhismo é uma técnica que realiza uma pintura de um elemento utilizando cores complementares justapostas que se vê de maneira diferente segundo a distância a qual nos estamos a observa-la. De perto, pontinhos pequeninos uns ao lado dos outros, de longe uma cara, uma paisagem ou lugar. Esta ideia inspirou o aparecimento da televisão que conhecemos hoje: um conjunto de pontos das três cores primárias incrivelmente pequenos que nos dão uma imagem perfeitamente nítida.

Reconheço ter uma cultura artística bastante medíocre pois nunca foi uma área que muito explorei, no entanto, do pouco que pude conhecer, e que recentemente vim a descobrir, inspirou-me para a realização dos meus projetos.

Recolha fotográfica

A recolha fotográfica foi feita ao longo do projeto e tive como principais elementos fotografados objetos do meu quotidiano. Tive que fazer um esforço considerável nos primeiros tempos para poder conseguir distinguir os elementos básicos de comunicação visual. Portanto, olhava com muita atenção para tudo de maneira psicótica a pensar de maneira repetitiva “descontextualização, descontextualização”. Tenho que reconhecer que, hoje, olho de maneira mais natural, mas também menos impressionada para os objetos que me rodeiam no dia-a-dia, pois o que considerava como “arte realizada por alguém de muita sabedoria” é na realidade um conjunto de elementos básicos dispostos de maneira harmoniosa. Ao ver os cartazes na rua até consigo imaginar que eu também o poderia ter feito, pois já não me parecem inacessíveis. Assim, a recolha fotográfica acabou por desenvolver um olho mais minucioso em mim e menos passivo. Neste momento, também posso compreender a obrigação de as fotografias serem da nossa autoria: a emoção que podemos capturar de maneira desinteressada ao fotografar elementos da realidade dos “comum dos mortais” pode revelar-se de uma grande beleza que nós só podemos às vezes entender.

Conclusão

Posso vir a considerar que este trabalho foi uma iniciação ao um mundo diferente. Pela obrigação de devolver um projeto até uma data limitada acabei por mergulhar num universo diferente num espaço de tempo muito curto onde o olhar e a comunicação são diferentes do que eu tinha previamente imaginado. A minha maior descoberta foi aperceber-me que nem sempre o que vemos é aquilo que interpretamos quando olhamos, o que mudou bastante a minha visão sobre o mundo. Também ao adquirir certos conhecimentos nesta área (e só foram alguns) consegui “desmitificar” alguns elementos que estão presente na minha vida.

O caminho ainda é longo para poder um dia dizer que tenho um olho artístico, mas sempre posso dizer hoje que pelo menos, já encontrei um caminho.

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